domingo, 27 de junho de 2010

Marginal

Marginal é o que sou.
Sempre às margens da sociedade
embora viva, ao acaso, no Centro
- com aquelas ruas velhas e sujas
de calçadas enegrecidas
embora as pedras sejam brancas
brancas? sejam? ERAM.

Esses prédios antigos não combinam
com o sarcasmo do meu sorriso
nem com a blusa rosa de que tanto gosto
e também não me fazem bem
se bem que gosto das janelas antigas
elas me olham, enquanto eu as vejo.

Esses fantasmas esquecidos
que peregrinam nas vielas
choram nas esquinas e reclamam nos bancos
já não dizem nada só falam
como eu, que já nem sei se devo falar
Fantasmas? Talvez eu seja um deles.

Eu sou marginal, periférica
no sentido mais puro das palavras
talvez eu já faça parte da paisagem
com minhas pernas longas e bronzeadas
meu sorriso irônico e debochado
minha natureza morta, fantasmagórica
marginal, periférica...

3 comentários:

  1. Por vezes somos reflexos do cotidiano urbano decadente ou refletimos a languidez rural, além de como nós nos entendemos também dependemos de onde vivemos, ou de onde sobrevivemos.

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  2. A imagem "MARGINAL" deste escrito emerge em mim como a imagem fantasmagórica dos desgarrados e perdidos da terra. Ele sempre estiveram aí, no submundo da histório desde os primórdios. Mas se encontra patente na nossa contemporaneidade. Essa imagem marginal de ruas escuras, que cheira a sexo e relações amistosas,abruptas ou afetivas, é digna de ser vista porque soa com realismo puro, sem afetação estética. Você, poetisa underground, faz parte da multidão de outsiders vagando pelos becos periféricos do mundo. Eu fico tentado a pensar na relação que seus escritos têm com sua vida, pois vida e arte devem ser uma coisa só, por mais que seja ficção. A arte, como no caso da literatura, tem de retratar a vida, não como puro reflexo, mas com criatividade poético-narrativo, expressa por uma linguagem oral que traduza as paixões, os sentidos e sensações que nós temos da realidade sensível. (Pirro)

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  3. Bem, o Pirro já disse tudo! Excelente o comentário dele (como também é excelente o blog do cara). Me resta dizer que Camilinha é uma magnífica poetisa. Cada vez mais apurada e sempre cortante, peixeira amolada. MASSA!

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