
Dedicatória: Dona Paulina, sempre em sua janela.
Dedicatória: Dona Paulina, sempre em sua janela.
Meu corpo em flor se insinua
vestido florido, cabelos ao vento
não uso da esquina ao relento
minha vitrine é outra... balcão
Encostada a ele perfumo cada mão
que docemente toca minha cintura
e quando encontro alguma segura
verifico se paga pelo meu bouquet
Porque sou flor que se despetala
pétala por pétala, com toda beleza
vou deixando perfumes por onde passo
vida curta, bela, doce aspereza
Mas como fruto de amor transgênico
minhas sementes são de incerteza.
Marginal é o que sou.
Sempre às margens da sociedade
embora viva, ao acaso, no Centro
- com aquelas ruas velhas e sujas
de calçadas enegrecidas
embora as pedras sejam brancas
brancas? sejam? ERAM.
Esses prédios antigos não combinam
com o sarcasmo do meu sorriso
nem com a blusa rosa de que tanto gosto
e também não me fazem bem
se bem que gosto das janelas antigas
elas me olham, enquanto eu as vejo.
Esses fantasmas esquecidos
que peregrinam nas vielas
choram nas esquinas e reclamam nos bancos
já não dizem nada só falam
como eu, que já nem sei se devo falar
Fantasmas? Talvez eu seja um deles.
Eu sou marginal, periférica
no sentido mais puro das palavras
talvez eu já faça parte da paisagem
com minhas pernas longas e bronzeadas
meu sorriso irônico e debochado
minha natureza morta, fantasmagórica
marginal, periférica...
Como água desaguo em seu corpo
molho suas juntas
seus pêlos, seus músculos
deliramos juntos, em prazer
Como fogo, queimam as nossas peles,
face a face, mão a mão
corpo a corpo, olho no olho
como fogo te incendeio
Como gelo te arrepio a costela
e a nuca, nos apelos dos desejos
tudo arrepiado, duro, denso...
Como pedra desliza pelo meu corpo
E como, como, como como ao prato
que após satisfazer o desejo
limpo com o dedo e a língua
e lavo e seco e guardo como prêmio
Ahhh... sou como a fome que devora
de dentro pra fora e como dói...
E você é alimento feijão com arroz
que como todo dia e quero mais...
Se você nunca for meu
Azar seu!
Se a vida não te der prazer
Falta se foder!
Se não tem amor e auto-estima
Se lastima!
Se tem inveja do seu irmão
Não passa de um cuzão!
Se a vida só te dá rasteira
Você é uma topeira!
Se nada pra você dá certo
Cala boca, fica esperto!
E se acha a vida chata
Se mata!
Mas se é só a rotina que te esmaga
me paga...